A quarta-feira (21) foi de celebração para algumas mulheres de Volta Redonda, que há anos lutam para dar um sepultamento digno aos filhos e outros parentes enterrados como indigentes. O caso de mais notoriedade na cidade é o da comerciante Alessandra Aparecida Paulina, a “Tia Chica” que, desde dezembro de 2023 se engajou para provar que seu filho, Jhonatan Gilberto Paulino da Silva, havia sido sepultado como indigente no cemitério de Barra do Piraí. Na tarde da quarta, na sede do Núcleo de Práticas Jurídicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alessandra, Maria Aparecida da Silva e Lucimar Oliveira foram recebidas pela professora Vanessa Terrade e do professor Leonardo Costa de Paula para celebrar a obtenção de atestados de óbitos de pessoas sepultadas como se indigentes fossem.
Ao lado de Tia Chica, Maria Aparecida exibiu o documento referente à morte de seu irmão, Luís Carlos Ferreira. Ele foi enterrado como indigente em 2018, no cemitério municipal do Retiro, em Volta Redonda. “Nossa dor foi a nossa força. Desde quando vi o grito da Tia Chica e os apoios de várias pessoas e grupos, logo notei que meu caso não era isolado. Temos que nos ajudar e lutar. Confesso que, de início, pensei que era normal demorar tanto, já que a Justiça é lenta. Agora, o meu irmão se tornou gente novamente, mesmo morto”, disse.
“Os meus papéis estão quase prontos também. Estou emocionada e feliz. Eu, com a minha família e amigos, vamos fazer o sepultamento digno de meu filho Jonathan Paulino. Nossa luta derrubou protocolos burocráticos, rompemos barreiras”, comentou Tia Chica. No final de 2023, a mãe iniciou uma saga para localizar o filho, fazer o exame de DNA e descobrir onde o corpo dele estava sepultado. O processo de Jonathan está prestes a ser concluído, após quase um ano e meio de luta. O processo de Lucimar Santos Souza, mãe de Pablo Santos de Souza, desde 2018 está em segredo de justiça.
Quando Tia Chica iniciou sozinha seu clamor público pelo direito de sepultar o filho, acabou movimentando uma rede de solidariedade, em especial de mulheres. Na sequência, o Núcleo de Práticas Jurídicas da UFF, a Defensoria Pública, o MEP-VR (Movimento Ética na Política de Volta Redonda) e o Conselho Municipal dos Direitos Humanos, entre outras instituições e pessoas lhe prestassem apoio para que o caso dela tivesse um desfecho rápido. Os episódios levaram, inclusive, à formulação de uma cartilha para ajudar pessoas em situações similares, que reuniu grupos da UFF e do Instituto Médico Legal (IML). (Foto: Divulgação)