Rosângela da Conceição Barbosa, de 31 anos, já tem motivos para não comemorar o dia 04/05/2019. Acontece que a rede social “Facebook” dela, amanheceu com ataques racistas neste sábado (04).
Funcionária de uma academia em Volta Redonda, moradora da Santa Cruz e negra, Rosângela procurou o jornal, não sabendo que atitude tomar. “Eu quero ir à delegacia, mas de tanto chorar estou sem forças e envergonhada. Não sei o motivo de estar envergonhada, mas esse sintoma bateu após sofrer os ataques”, disse. Rosângela ainda comentou não saber por qual motivo ela foi atacada e indagou se ser negro é crime.
O perfil que atacou Rosângela é um perfil falso, muito utilizado por covardes nas redes sociais. Abaixo, alguns prints enviados pela própria vítima:
As redes sociais se transformaram em populares comunidades virtuais, onde bilhões de usuários estão conectados todos os dias. Atualmente, dois em cada sete habitantes do planeta utilizam diariamente o Facebook, a rede social mais popular do planeta. O estudo “2018 Global Digital” realizado pelo site “We are social” revelou que os brasileiros gastam em média 3,5 horas nas redes sociais, de um total de 9 horas por dia navegando na internet.
Esses novos hábitos contribuíram para a migração do crime para o ambiente virtual. Um relatório divulgado em 2017 pela Norton Cyber Security revelou que o Brasil é o segundo país do mundo com o maior número de casos de crimes cibernéticos. Esses crimes afetaram aproximadamente 62 milhões de pessoas e gerou um prejuízo de mais de R$80 bilhões.
O racismo ocupa o primeiro lugar do ranking como o crime virtual mais popular e o Facebook é o site com o maior registro de denúncias. Em 2017, apenas a ONG SaferNet registrou 1751 denúncias de racismo na rede social, quase 58,3% dos registros realizados em toda a internet. O Twitter, com 422, e o YouTube com 174 denúncias completam o ranking dos sites com o maior número de registros de racismo. Em toda a internet foram registrados aproximadamente 3 mil casos, apenas no ano passado.
Segundo o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, a rede social tem a função de “conectar” as pessoas, porém, tem ocorrido justamente o contrário. O Facebook evidencia as diferenças de pensamento e é terreno fértil para a intolerância e o preconceito. As interações sociais neste espaço refletem as opiniões dos seus usuários e do ambiente em que vivem. As diferenças se transformam em ataques e xingamentos, criando um clima de efervescência social que é evidenciado na nossa realidade, cada vez menos tolerante.
A desigualdade racial do Brasil evidencia uma sociedade cuja parcela significativa é racista. Apesar da abolição da escravidão ter ocorrido há quase um século e meio, os negros ainda sofrem com os reflexos de uma cultura elitista e preconceituosa. O resultado disso, é que os negros ocupam a maior parte das vagas dos presídios, possuem menores índices de alfabetização, recebem menores salários e têm menos acesso ao saneamento básico.
Com os novos hábitos, ocorre uma migração dos atos de preconceito para as plataformas online. Para alguns usuários, ainda é predominante o pensamento de que a internet é uma “terra sem lei”. Por isso, propagam preconceito através dos próprios perfis, pois não acreditam que podem sofrer algum tipo de punição pelos comentários publicados. O Poder Público, ONGs e as empresas de tecnologia estão unindo forças para aumentar o nível de controle desse tipo de publicação e de combate aos criminosos.
Matéria: Renan Cury com trechos de Geledés.org*