




Nicolau com Sarah Higino e o professor Waldyr Bedê na Fundação Educacional de Volta Redonda (Fevre)
“O legado dele não vai ser esquecido. Sob sua batuta e seus ensinamentos, milhares de jovens encontraram mais do que o aprendizado da música, encontraram disciplina, cidadania, uma perspectiva no futuro dentro da música”.
O depoimento emocionado é da maestrina Sarah Higino sobre o professor e músico Nicolau Martins de Oliveira, idealizador do projeto Volta Redonda Cidade da Música, que morreu neste sábado (27), no Hospital da Unimed, no Jardim Belvedere, para onde havia retornado no dia do Natal dois dias depois de ser liberado de uma internação de duas semanas. Nicolau tinha insuficiência cardíaca. Seu sepultamento será às 16h deste sábado, no Portal da Saudade, onde acontece o velório.
“Muitos se tornaram músicos profissionais, de renome, mas eu acredito que todos, sem exceção, levaram consigo a lição maior do mestre Nicolau, que é a arte, a forma mais pura que a gente tem de servir ao próximo. Foram mais de 51 anos dedicados à Fevre (Fundação Educacional de Volta Redonda), às nossas escolas municipais”, acrescentou Sarah.
Ela lembra que o maestro trabalhou, além da Escola Técnica Pandiá Calógeras, nas escolas Nossa Senhora do Rosário e Macedo Soares e, por onde passou, “foi mais que um professor, foi um semeador de oportunidades”. “A música nunca foi apenas um fim para ele em si mesmo, mas também um instrumento de doação e de transformação social”, definiu Sarah.
Nicolau Martins de Oliveira plantou em 1974, quando ingressou na Fevre, a semente do Volta Redonda Cidade da Música, projeto que se tornou referência na educação musical em todo o país, formando gerações de músicos na cidade. Em seu perfil no Instagram, o prefeito Antonio Francisco Netou prestou sua homenagem ao maestro. “Um homem que deixou marcas pela música, cultura e educação em nossa cidade. Que Deus receba nosso amigo e que possa confortar aqueles que ficaram. Maestro Nicolau segue vivo em seu legado, a cada nota musical que sair do projeto Volta Redonda, Cidade da Música”.
Por meio do perfil da Secretaria Municipal de Cultura no Instagram, o secretário Anderson de Souza também se pronunciou, referindo-se a Nicolau como “um verdadeiro ícone da nossa cultura.” “Maestro dedicado, educador incansável e apaixonado pela música, Nicolau construiu uma trajetória marcada pelo compromisso com a formação cultural e humana de gerações. Sua vida foi inteiramente dedicada à cultura e à educação, deixando um legado imensurável para a cidade. Que sua história siga inspirando novos caminhos e que sua memória permaneça viva na cultura de Volta Redonda”.
Trajetória – Em uma entrevista realizada no ano passado, quando projeto completou 50 anos, Nicolau lem,brou sua trajetória. Catarinense de nascimento, ele se tornou volta-redondense de coração, sendo agraciado com o título pela Câmara Municipal.
Seu primeiro contato com a música foi na infância, ao participar da banda da igreja Assembleia de Deus que frequentava em Capivari, então distrito de Tubarão (SC), cantando no coro e tocando trompete. Em casa, a música também era presença constante, segundo ele.
Volta Redonda entrou em sua vida aos 15 anos, em 1958, quando foi aprovado para estudar na Escola Técnica Pandiá Calógeras. Mais tarde, como funcionário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), conheceu o professor e maestro Franklin de Carvalho Jr., de quem foi aluno, tornando-se seu substituto como professor na ETPC, criando a fanfarra da escola técnica Ele cursou a Escola Nacional de Música da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com graduação em fagote. Nos anos 1970, foi para os Estados Unidos, ampliado seu conhecimentos em várias universidades.
Em 1974, começou a trabalhar na Fevre e retomou as atividades da Banda Marcial, que conquistou diversos títulos. Com o acréscimo de outros instrumentos, ela se tornou a Banda de Concerto da Fevre em 1982. Um ano antes, em 1981, Nicolau Martins criou a Banda Mini, que passou a ser o primeiro contato dos alunos com os instrumentos de percussão e pífaros (que passou a ter um curso próprio em 1990), tendo como principal objetivo trabalhar a coordenação motora desses jovens.
Porém, a mais importante realização de Nicolau de Oliveira começou no mesmo ano de 1974, quando deu início ao projeto que, mais de três décadas depois, foi enfim batizado como Volta Redonda Cidade da Música, num incansável trabalho de musicalização dos estudantes da rede municipal de ensino, que atualmente está presente em mais de 30 escolas municipais de Volta Redonda, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.
Muitas outras iniciativas vieram depois, como a Banda de Concerto, Coro Infanto-Juvenil, os projetos “Volta Redonda Cidade da Música” e “Do Aço ao Clássico” (que envolve todas as apresentações musicais), e a criação da Orquestra de Cordas de Volta Redonda, em 1995. Ela foi antecipada, em 1992, pela Orquestra Sinfônica Embrião de Volta Redonda, com a criação da primeira turma de violinos no mesmo ano, seguida pelas turmas de violas (1993) e violoncelos (1994). Outros frutos dessa época são as orquestras de Violinos e a de Violoncelos e Contrabaixos.
A trajetória do maestro ficou marcada, além de suas realizações, pela frase que resume seu amor pela música, a educação e Volta Redonda: “No dia em que Volta Redonda for conhecida como a cidade da música, aí então estaremos fabricando o melhor aço do mundo”. Na ocasião da entrevista, ele declarou que podia até estar por fora da realidade do aço, “mas eu sei que estamos fazendo a melhor música”. (Foto: Arquivo pessoal)