Entre 1991 e 1995, Nova Friburgo, na Região Serrana do estado do Rio, ocupou as manchetes dos principais jornais e noticiários de TV no país. Motivo: o assassinato em série de nove pessoas na zona rural, atribuídos a dois irmãos, Ibraim e Henrique de Oliveira, negros, pobres e analfabetos, que passaram a ser tratados como “Irmãos necrófilos”. Aos menos cinco das vítimas foram violentadas depois de já estarem mortas. A reportagem é do site Foco Regional.
O caso foi o pano de fundo para o longa-metragem “Macabro”, do cineasta Marcos Prado, rodado em 2018 em Teresópolis e Friburgo. Ainda hoje inédito em circuito nacional, mas em exibição no Telecine, o longa já amealhou dois prêmios nos EUA, no Festival de Austin, no Texas (onde foi exibido no exterior pela primeira vez), e em Nova York, no Brooklyn Film Festival, este já realizado online devido à pandemia da Covid-19.
Entretanto, o que pouca gente sabe, é que um dos destaques do filme é um ator de Barra Mansa: Eduardo Tomaz interpreta um dos irmãos, que, no filme, ganharam nomes fictícios. Matias, personagem de Tomaz, é uma referência a Henrique, enquanto Ibraim virou Inácio, interpretado pelo ator Diego Francisco.
TESTE – Tomaz é mais um exemplo daqueles que buscam se superar para a realização do sonho de serem reconhecidos como ator. Aos 25 anos, ele trabalha como garçom na cidade do Rio de Janeiro, enquanto busca se aprimorar na arte da interpretação.
“Macabro” era o incentivo que precisava. Ao site Foco Regional, ele conta que recebeu de sua agência um pedido de teste para a produção, mas que, sem noção da dimensão do projeto, nem foi tão cuidadoso como deveria. “”Era um teste de um minuto, em que eu precisava demonstrar muita maldade. Enviei o vídeo, mas o então o diretor [Prado] pediu que eu fizesse outro, com uma qualidade de som melhor. Aí eu fiquei mais ansioso, pois comecei a compreender que se tratava de algo mais grandioso”, disse.
Era 2018 e Tomaz estava dentro de um ônibus, na rodoviária de Volta Redonda, a caminho do Rio, quando o telefone tocou. “Era da agência, me parabenizando porque tinha sido aprovado no teste”, recorda.
Tratado por Dudu na família e pelos amigos, o ator nem era nascido quando os macabros acontecimentos se deram em Nova Friburgo. Recorrer às notícias da época e passar pela preparação de elenco o ajudaram a dar o perfil ao personagem. “Fiquei com um certo receio e ansiedade, mas também com 100% de disposição para fazer meu primeiro trabalho”, conta.
Com a repercussão da obra, Eduardo Tomaz viu as portas se abrirem para outros projetos, como a participação no filme “O Segredo de Sara”, no ano passado. Ele, no entanto, segue na vida real atuando como garçom (tenho as contas para pagar”), enquanto se dedica aos cursos de TV e cinema, certo de que, passada a pandemia, quando o setor audiovisual retomar a normalidade, novas oportunidades vão surgir. “O filme me abriu as portas. Foi um presente”, resume.
O DESFECHO – A propósito dos “irmãos necrófilos”, que inspirou o filme: Ibraim foi morto pela polícia depois de uma longa caçada. Henrique foi condenado a 49 anos de prisão e cumpre pena até hoje. Ele sempre alegou inocência.
A ideia original de “Macabro” tomou novo rumo quando o advogado de Henrique entrou em contato com o diretor, assim que soube da produção, pedindo que seu cliente não fosse condenado de novo. “Henrique pegou quase 50 anos de prisão sem prova nenhuma. Havia factuais, havia testemunhas, o outro irmão foi morto por um oficial do Bope, mas ninguém viu o Henrique nas cenas dos crimes”, disse Prado. “Então pesquisamos os autos do processo e, dos nove assassinatos, três estão na conta dele. Mas dois sem nenhuma prova, e o terceiro baseado na mudança de depoimento de uma vítima que sobreviveu ao ataque”. (Foto: Divulgação)