Após três semanas tentando combater o novo coronavírus, a Itália começou a enfrentar novos problemas decorrentes da doença. Além do superlotamento de hospitais e da falta de médicos e enfermeiros, nas últimas horas, surgiram também dificuldades na gestão dos corpos das vítimas. Desde que a crise foi deflagrada, em 20 de fevereiro, o país já soma 827 mortes relacionadas à covid-19.
Além do maior número de corpos, que congestionam o serviço funerário de cidades pequenas, a remoção dos cadáveres que possam estar infectados tem exigido um protocolo de segurança específico. Por causa da possibilidade de contágio, somente agentes funerários especializados podem acessar o local do óbito, munidos de roupas, equipamentos e caixão de máxima proteção. Além disso, antes de serem transferidas, as vítimas devem ser submetidas ao teste para o vírus.
Foi sob essa justificativa das autoridades sanitárias que uma mulher precisou ficar mais de 24 horas ao lado do marido morto em casa, em Borghetto Santo Spirito, na região da Ligúria, no norte do país. Ele havia apresentados sintomas compatíveis com coronavírus nos dias anteriores e, ao passar mal, chegou a ser reanimado por socorristas antes de morrer. Eles não puderam levar o corpo, e a mulher, em regime de quarentena compulsória, não pode deixar a própria casa sem autorização e nem receber a ajuda de familiares.
“Uma situação horrível e desagradável que nem consigo definir em palavras. Surreal”, disse o prefeito Giancarlo Canepa à imprensa italiana. O cadáver foi removido na manhã de ontem, mesmo sem o resultado do teste. Os agentes funerários especializados transportaram o corpo em um caixão de zinco até o hospital Luigi Sacco, de Milão, onde será realizada a autópsia.
Foi o segundo caso do tipo nos últimos dias. Em Nápoles, o professor de artes marciais Luca Franzese, que teve uma participação no seriado “Gomorra”, divulgou nas redes sociais um vídeo da irmã de 47 anos morta sobre a cama de uma casa. “Estamos à espera, há 24 horas, do resultado do teste para coronavírus, ninguém nos informa de nada e estamos completamente abandonados”, disse ele na gravação, que viralizou no fim de semana. O resultado do exame da vítima deu positivo.
Na cidade de Alzano Lombardo, no entorno de Bérgamo, uma das províncias da Lombardia mais atingidas nos últimos dias pelo covid-19, o problema, desde domingo (8), é a quantidade de corpos à espera da cremação. “No ano passado, nesse mesmo período, tivemos quatro óbitos. Agora, já são 22”, disse o prefeito Camillo Bertocchi ao jornal “La Stampa”. “Tenho ao menos 12 pessoas no necrotério do hospital que não posso retirar porque não tenho onde colocá-los.” A cidade tem cerca de 13 mil habitantes. As informações foram divulgadas pela Folha de São Paulo.